A entrevista de hoje tem peso maior. Literalmente uma voz. Em recente passagem por Belo Horizonte, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz concedeu entrevista exclusiva ao Novojornal, na sede da Associação dos Jornalistas do Serviço Público, com a colaboração do presidente da entidade, Cláudio Vilaça.
Pensando naqueles que não possuem placa de som, fizemos esta síntese. Ao final da mesma, basta clicar no local indicado para ouvir a íntegra da fala do delegado Protógenes Queiroz. Vamos ao teor das revelações.
NJ - O senhor descobriu toda a cadeia da corrupção no País?
Protógenes - Existem dois Brasis, um antes e outro depois da Satiagraha, que identificou um esquema de corrupção implantado há mais de 20 anos no País, com tentáculos espalhados em todos os Poderes da República. E houve uma inversão de valores, os investigados passaram a ter proteção do aparelho de Estado. A maioria da população está do nosso lado e a minoria ao lado de um banqueiro bandido chamado Daniel Dantas.
NJ - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é acusado de ligações com Daniel Dantas. Procedem as acusações?
Protógenes – Eu digo que o ex-presidente FHC iniciou a ligação perigosa e suspeita com Daniel Dantas ao iniciar o processo de privatização. Com isso facilitou negócios espúrios, ilícitos e criminosos. Crimes de lesa pátria. Nós verificamos mais de 1.400 concessões para uma só pessoa explorar o subsolo brasileiro, o banqueiro condenado Daniel Dantas que tenta vender parte destas concessões a grupos financeiros internacionais.
NJ - Existem interesses estrangeiros ligados a este processo?
Protógenes – Existe. Ele ficou mais claro com a Satiagraha quando nós manuseamos dados a partir da Operação Chacal que nos deu clareza do interesse internacional escuso sobre a riqueza do nosso País. O banqueiro criminoso Daniel Dantas é uma das pessoas ligadas a este esquema. Em 1992, ele fez parte da elaboração de um documento chamado Acordo Guarda Chuva, redigido em Washington, assinado pelo atual ministro Mangabeira Hunger, destinado a desviar riquezas do Brasil. Consta aí privatização do sistema de economia, Vale do Rio Doce, da Petrobras, do sistema de saúde e educação e até mesmo a transposição do Rio São Francisco, o que é muito grave. E todas estas pessoas estão soltas, o que é mais grave ainda. Estes poderes externos querem promover uma desestruturação dos Poderes da República. O combate à corrupção está fragilizado em virtude da fragilidade das próprias instituições. A própria Polícia Federal não tem independência. Outra situação grave desse clube de amigos é o desmonte do sistema brasileiro de inteligência. O Brasil hoje é uma nação desprotegida.
NJ – A Amazônia corre riscos?
Protógenes – Sim. Haja vista a exploração do petróleo, o desmatamento e a própria internacionalização da maior floresta do mundo. Com um fator grave, a corrupção no âmbito do Congresso Nacional que favorece os interesses externos.
NJ – Nós podemos ter esperança de reversão deste quadro?
Protógenes – Com certeza. A partir do momento em que a sociedade civil organizada apontar que Brasil nós queremos para as futuras gerações. A saída é política e nós estamos bem próximos disto aí. Temos de assumir o nosso papel de pessoas honestas, reivindicar e tirar os corruptos das instituições. Vamos conseguir isto exercendo a cidadania.
NJ – Há pessoas que responsabilizam FHC pela manipulação da dívida externa. É verdade?
Protógenes - Eu coordenei uma investigação a respeito de títulos da dívida externa brasileira e identifiquei fraudes tendo indícios de supostas irregularidades envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quando na época ele era ministro da Fazenda. Identifiquei que a nossa dívida externa é artificial e ao fazer isto pude identificar todos os atores e responsáveis por este acréscimo de recursos creditados aos setores internacionais e que foram fraudados.
NJ – E quanto ao Projeto Sivam e ao Dossiê Cayman?
Protógenes – O Dossiê Caymam verificou-se era falso, porém continha indícios de que alguma coisa poderia ser verdadeiro. Quanto ao Sivam tudo ficou bem claro a partir da Satiagraha. Há sim interesses internacionais que infelizmente o senhor Fernando Henrique Cardoso beneficiou algumas, atendendo parte dos interesses internacionais e criando o Estado Mínimo no Brasil, desequilibrando o interesse público e interesse privado, criando terreno propício para a corrupção. Poderemos iniciar o resgate com a nacionalização da Petrobras.
NJ – O senhor se preocupa com a desorganização partidária brasileira?
Protógenes – Realmente é uma lástima a falência pública e partidária. Todos os partidos são controlados por interesses muitas vezes privados que se sobrepõem ao interesse do País. É necessária uma reforma muito grande.
NJ – A dispensa do diploma para o exercício do jornalismo?
Protógenes – Isto é um sintoma de falência do processo legislativo em não manter-se ativo. Devido a esta paralisação caótica que causa a possibilidade do Judiciário legislar ocorre isto. Caberia primeiro a estes profissionais serem ouvidos e eles não o foram. Agora chegou o momento dos jornalistas discutirem o papel da imprensa. A Satiagraha identificou também jornalistas comprometidos com ideias negativas ao prestar informações aos seus leitores.
NJ – Pretende-se a privatização do sistema de segurança pública. Em Minas o governador Aécio Neves deseja isto. O que o senhor pensa a respeito?
Protógenes – Isto é muito perigoso porque já estamos vivendo um sistema paralelo do sistema de segurança pública que só beneficia a quem tem poder e dinheiro neste País. Aos órgãos de segurança pública o Estado dá hoje um tratamento inadequado e injusto ao não alçar os instrumentos de segurança pública como necessários ao equilíbrio dos conflitos da sociedade. O que está ocorrendo em Belo Horizonte já é uma clareira aberta. Nós ainda não temos maturidade para isto. Com isto poderemos estar entregando as penitenciárias às grandes organizações criminosas, inclusive internacionais. Por que não se discute isto com a sociedade primeiro. O Brasil já é mínimo. Farão do País o mínimo do mínimo?
NJ – E a análise do governo Lula?
Protógenes – Faço a análise como cidadão. A primeira fase foi muito profícua. Num primeiro momento ele teve que alimentar quem tem fome e fez um pacto que impactou, as propostas “Fome Zero” e “Bolsa Família”. Se não fosse esta iniciativa do presidente Lula o Brasil estaria em piores condições. Mas aliado a isto houve também um pouco de fragilidade em busca da governabilidade, descaracterizando o próprio governo. Tivemos aí grandes escândalos que nos causam indignação e repulsa que hoje estão evidenciados em todas as cidades do Brasil.
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